Os adios
Tenho de parar de me adiar.
Escolho parar de me adiar.
Adiar a beleza.
Adiar a escrita.
Adiar o dia.
Adiar a meditação.
Adiar o acordar.
Entre adios por um dia melhor, mais propício, entre o guarda para a melhor ocasião vão-se perdendo anos adiados.
Escolho o agora, não adio mais. Vou pintar as unhas e o caderno, mesmo que a aguarela fique esborratada. Vou gravar, mesmo que a voz trema e não seja ainda a minha voz.
Vou escrever mesmo que seja mau. Encontro assim o meu lugar no mundo, mesmo que esse lugar seja pelo mundo, aqui e ali. Espalhada, porque o meu coração é grande.
Vou ler agora.
Vou dizer agora.
Vou sair agora.
Vou olhar agora nos olhos de todos.
Porque já sabemos, que muitas vezes, depois, torna-se nunca.