Um poema por dia?!
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Uma das feridas mais profundas que se pode ter é ser rejeitado por ser quem se é. Então começa a o uso de máscaras, condicionamentos, bloqueios, os "e ses..." e começamos a ensaiar a vida... o que se vamos dizer, como vamos dizer, questionamos se a virgula está no sitio certo naquela mensagem que enviamos...
Na verdade, o erro não está em se ser nós próprios, está em reconhecer validação no exterior (sei que isto é mais fácil dito do que feito, especialmente quando estamos a falar de pessoas de quem gostamos). É preciso não só, aceitarmos-nos independentemente das circunstâncias, mas também ter muito cuidado com o que nos sai pela boca, mesmo sem querer, mesmo em brincadeira... porque na verdade, nós sabemos muito pouco do mundo interior dos outros. Algo que pode parecer pequeno para nós, pode ser uma montanha que o outro está a tentar subir... e que necessidade há de aumentar à escalada?
Ter em mente que podes ser a pessoa mais maravilhosa do mundo e ainda assim não ser sempre tratado de acordo com a tua energia, não ser sempre tratado como tratarias os outros, não ser sempre tratado com justiça. E ainda assim, continuar a vida com serviço e significado, na certeza que estás a ser a mais alta expressão de ti próprio.
Martin Luther King disse: nem toda a gente pode ser famosa, mas toda a gente pode ser grandiosa. O sucesso não é ser sucesso para o mundo, é ser sucesso para nós próprios, que o resto vem como consequência.
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Ele foi embora e ela voltou para si. Era o único caminho. O alívio da normalidade. O alívio que vem quando se pode voltar a dar a corda à vida e a música que sai é aquela de sempre. Esse alívio que agora contaminava tudo. Todos os cantos, todas as pedras, todos os sons e todas as cores. Esse alívio que agora tinha cheiro a podre. Porque na verdade, nada poderia voltar a ser como dantes e isso é a pior coisa que pode acontecer a quem decidiu ficar estanque. A inevitabilidade da mudança. E o que borbulhava nas profundezas foi criando momentum.
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Os dias passaram, a confusão de dias festivos ajuda à passagem que se quer disfarçada, confusão que enovoa o que não se quer mostrar e atenua o que não se quer sentir.
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O inadiável aconteceu. Aconteceu vazio de palavras, desordenado mentalmente, tempestuoso de emoções… Recordações passaram a ser a conversa de circunstância. Tingidas por essa mundanidade de quem não sabe o que dizer e usa o que de mais profundo aconteceu para ir justificando a estagnação.
Depois, o alívio e a angústia da separação.
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Entrou pela rua. Era como se estivesse a entrar num túnel do tempo. Era tudo exatamente igual, as pedras, as pessoas. Para já, estava a correr tudo bem. O seu embraço era quase impercetível. E ao fundo viu, foi como se todo o tempo se concentrasse no agora.
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Desceu a rua, a mesma rua, as mesmas pedras, o mesmo percurso, as mesmas pessoas. Só olhar era diferente. Se tudo corresse bem, acabaria depressa. Mas o universo tem uma forma diferente de fazer correr bem. E viu, ao fundo, o inevitável.
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Sabia que tinha de sair de casa. Não queria nada. Sabia o que ia acontecer.
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A angústia de ter de sair de casa era quase insuportável. Aquele caminho de poucos metros que fazia todos os dias com a maior banalidade, parecia hoje feito de fogo, um fogo que queimava de lucidez. O medo comia-lhe as entranhas. Sabia que mais cedo ou mais tarde ia acontecer, não havia como fugir. As probabilidades não estavam a seu favor.
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