Resisto sempre aos fenómenos. Mas a verdade é que os fenómenos são sempre um ponto interessante de análise. E por isso, finalmente lá me decidi a ver as 50 sombras de Grey.
Leiam até ao fim, porque é no grande final que tudo é revelado… 😊 😊
É uma obra prima cinematográfica? Não, nem será, mesmo que baixem muito a fasquia. Não tem diálogos particularmente interessantes, nem fotografia, falha em simbolismo, e até chega a ser um pouco chato. A banda sonora é realtivamente interessante. Mas não foi por ser uma obra prima que chamou a atenção do mundo inteiro e arredores. Foi claro o sexo (será?! sim, mas não só).
Toda a discussão que se gerou à volta do filme e das personagens é realmente de ser estudada em relação às dinâmicas de relações e a forma como a sociedade encara isto.
Para mim, tendo em conta que todo o grande alvoroço à volta dos livros e dos filmes era por causa do sexo, esta era sem dúvida a parte que eles tinham mais bem resolvida 😊. Partindo do principio que cada um faz o que quer e que, desde que seja com mútuo consentimento, vale tudo. Nada na relação (pelo menos na parte sexual) das duas personagens quebra estas regras.
Ora vejamos então onde a coisa fica ainda mais interessante, começando pelo dilema em que as personagens logo de inicio se encontram e que é o mote de toda a história: Ana vê-se de repente num mundo onde não sabe estar e Grey não sabe o que fazer com o que sente por Ana.
Para mim, a parte interessante do filme é a jornada de crescimento destas duas personagens. Ela que passa de menina tonta a mulher empoderada e ele que se vai transformando de alguém com sério problemas de relacionamento ligados ao seu passado, a alguém que, lentamente, vai deixando alguém penetrar (aiii, as nossas mentes deliciosamente maliciosas😊) nas camadas que foi colocando sobre si, e entrar no seu mundo.
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Pronto, em resumo é isto. Tudo poderia ter sido feito num só filme que provavelmente até seria mais interessante (mas isso já é a crítica cinematográfica que há em mim), mas, para mim, muito da explicação do fenómeno, tem a ver sim, com a parte do sexo (escrevi dois textos sobre isso se quiserem procurar), mas também tem muito a ver com a parte relacional, porque nos dá uma certa esperança, certeza e conforto que todos temos esta capacidade de nos sentirmos seguros o suficiente para fazer um caminho parecido. Ou se calhar o fenómeno é só porque precisamente, os filmes nos relembrem que é mesmo possível e isso acenda alguma luzinha numa parte escura cá dentro. Porque no fundo o que se fala aqui é de intimidade, verdadeira intimidade… Da sua descoberta e de um caminho até ela.
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