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O lápis que vê

O lápis que vê

19 de Março, 2018

Duas gotas

Ana Isabel Sampaio

Já te disse? És uma gota de água. Uma gota de água cristalina pousada sobre a tarde fria na varanda do meu quarto. Inerte e suspensa. Inerte e suspensa. Inerte e suspensa. Inerte e suspensa. Inerte e suspensa. Inerte e suspensa. Inerte e suspensa. Inerte e suspensa.

Já te disse? Sou uma gota de água.

Como que esperando algo que... Vivendo dos últimos pingos da última chuva que não voltará.

Num último instante atento para resistir, para não estalar em milhões de partículas.

19 de Março, 2018

50 sombras de quê afinal?

Ana Isabel Sampaio

Resisto sempre aos fenómenos. Mas a verdade é que os fenómenos são sempre um ponto interessante de análise. E por isso, finalmente lá me decidi a ver as 50 sombras de Grey.

Leiam até ao fim, porque é no grande final que tudo é revelado… 😊 😊

É uma obra prima cinematográfica? Não, nem será, mesmo que baixem muito a fasquia. Não tem diálogos particularmente interessantes, nem fotografia, falha em simbolismo, e até chega a ser um pouco chato. A banda sonora é realtivamente interessante. Mas não foi por ser uma obra prima que chamou a atenção do mundo inteiro e arredores. Foi claro o sexo (será?! sim, mas não só).

Toda a discussão que se gerou à volta do filme e das personagens é realmente de ser estudada em relação às dinâmicas de relações e a forma como a sociedade encara isto.

Para mim, tendo em conta que todo o grande alvoroço à volta dos livros e dos filmes era por causa do sexo, esta era sem dúvida a parte que eles tinham mais bem resolvida 😊. Partindo do principio que cada um faz o que quer e que, desde que seja com mútuo consentimento, vale tudo. Nada na relação (pelo menos na parte sexual) das duas personagens quebra estas regras.

Ora vejamos então onde a coisa fica ainda mais interessante, começando pelo dilema em que as personagens logo de inicio se encontram e que é o mote de toda a história: Ana vê-se de repente num mundo onde não sabe estar e Grey não sabe o que fazer com o que sente por Ana.

Para mim, a parte interessante do filme é a jornada de crescimento destas duas personagens. Ela que passa de menina tonta a mulher empoderada e ele que se vai transformando de alguém com sério problemas de relacionamento ligados ao seu passado, a alguém que, lentamente, vai deixando alguém penetrar (aiii, as nossas mentes deliciosamente maliciosas😊) nas camadas que foi colocando sobre si, e entrar no seu mundo.

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Pronto, em resumo é isto. Tudo poderia ter sido feito num só filme que provavelmente até seria mais interessante (mas isso já é a crítica cinematográfica que há em mim), mas, para mim, muito da explicação do fenómeno, tem a ver sim, com a parte do sexo (escrevi dois textos sobre isso se quiserem procurar), mas também tem muito a ver com a parte relacional, porque nos dá uma certa esperança, certeza e conforto que todos temos esta capacidade de nos sentirmos seguros o suficiente para fazer um caminho parecido. Ou se calhar o fenómeno é só porque precisamente, os filmes nos relembrem que é mesmo possível e isso acenda alguma luzinha numa parte escura cá dentro. Porque no fundo o que se fala aqui é de intimidade, verdadeira intimidade… Da sua descoberta e de um caminho até ela.

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