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O lápis que vê

O lápis que vê

25 de Outubro, 2017

A noite negra da alma

Ana Isabel Sampaio

A Noite Negra da Alma

Parte I – A chamada para a Aventura

A Noite Negra da Alma não é só uma noite. É uma caminhada pelo túnel, noite dentro. Trata-se de um termo muito usado no meio espiritual para designar um período caracterizado por um estado emocional e psicológico de extrema frustração e com algumas provações. Qualquer coisa que nos propomos fazer parece carregada de incertezas e obstáculos. Na psicologia, por exemplo, é caracterizado por um estado emocional, uma depressão temporária, um estado de ânimo que inibe o pensamento e a ação da pessoa, o que explica fracassos e as frustrações.Neste período poderá haver a tentação de abandonar ideias e esperanças. Este é um período em que a fibra da personalidade-alma é testada. As verdadeiras convicções, a força de vontade e o merecimento de maior iluminação – a transcendência, são colocados à prova. Se se sucumbe perante tudo o que vai aparecendo e se escolhe o caminho mais fácil ou a saída de emergência, embora a frustração e o desespero possam diminuir, daí em diante, a existência poderá ser medíocre e verdadeira paz interior passará apenas a ser uma miragem.Não se trata de um tipo de punição imposta pela vida. É sim, uma espécie de adaptação que cada um deve fazer dentro de si mesmo para evoluir a um nível mais elevado de consciência – transcendendo-se. É uma espécie de desafio, uma forma para que se recorra à introspeção e promova uma reavaliação de ideais e objetivos na vida. Uma exigência de que se abandone interesses superficiais e se reveja o modo de viver. É no fundo uma oportunidade de reestruturação.A Noite Negra da Alma faz-nos questionar sobre quais as contribuições que podemos fazer à humanidade, mas principalmente faz com que cada um descubra os seus pontos fracos e fortes tendo a oportunidade de fazer uma autentica e profunda viagem interna.Pode-se sempre recusar esta chamada para a aventura, mas os sentimentos de medo e recusa vão causar detrimento interno.(…)

Parte II – A viagem

É ao fundo do nosso ser. A descida aos mais profundos dos nossos bloqueios, a tudo aquilo que nos limita, a tudo o que recalcamos e atafulhamos a um canto. A todas as dores, condicionamentos, culpa, vergonha e principalmente medos. E estes são os três grandes sentimentos que limitam a existência: vergonha, culpa e medo. Esta é a verdadeira viagem: ir aos limites dos nossos sofrimentos. E nessa expedição vamos encontrar muita coisa: coisas que sabíamos que existiam, coisas que não sabíamos que existiam, mas que gostamos, outras que não sabíamos que existiam e não gostamos (estas são um desafio ainda maior), situações que achávamos já ter resolvido, questões que não queríamos ter de voltar a ver e toda uma miríade outras coisas.Um dos pontos desta viagem é o querer voltar para casa, para a fonte, para o que quer que lhe queiramos chamar. É chegar a um ponto extremo de dizer: para mim chega, eu não quero mais estar cá, eu só quero ir para casa (não se fala aqui de tendência suicidas, essa questão requer outro tipo de assistência e cuidado e não é o que está a ser tratado neste texto). É um: eu não quero morrer, mas eu não quero estar cá mais, cheguei ao meu limite. Este estado é atingido quando, e vou usar um termo da gíria, se bate no fundo do poço (o fundo pode ser muita coisa e assume uma forma diferente para cada pessoa). É o limite do cansaço e penar, é o ponto em que finalmente percebemos que estamos cansados de sofrer e que estamos dispostos a fazer o nosso trabalho para que isso pare.*O ponto de retorno, o revirar, chegue neste momento. Pode então começar a acontecer a recuperação, cura, evolução…(…)

*Nota: Quanto maiores forem as resistências de cada um, maiores ou mais graves são as circunstâncias que fazem chegar a este ponto (quanto mais resistimos piores as coisas ficam e mais graves se vão tornando as “chamadas de atenção” podendo chegar a doenças, acidentes, falências, etc…)

Parte III – Solução expresso?... e outras divagações

Depois da contextualização, de uma breve explicação do que é e do que acontece, chega a altura de dar algumas sugestões de como lidar com a situação.A grande e primeira questão é a aceitação. Aceitar o que está a acontecer, reconhecer o que estamos a passar. O Winston Churchill dizia: If you’re going through hell, keep going (que é algo como: se estás a passar pelo inferno, continua a andar).Durante a vida vamos adquirindo aquilo a que chamamos bagagem. Os nossos sistemas de defesa vão-se aperfeiçoando – o que podemos chamar de Ego, que opera sempre na defensiva e em constante alerta de perigo (fiquem atentos para um testo sobre isto, o Ego não é um inimigo a abater). Nesta remoção de bagagem que é noite negra da alma, o que vem ao de cima é o Eu mais verdadeiro. É o espaço de nós mesmo que tem espaço para nós mesmos, de alma aberta. A melhor forma de aceitar a bagagem é não lhe resistir. Ao libertar a resistência, o julgamento, a culpa, a vergonha e o propulsor de todos os anteriores, o medo, dá-se a experiência pura de nós mesmos. Temos de perceber que tudo o que vivemos serve um propósito.É um despojar de tudo o que fez sentido, tudo o que foi condicionado toda a nossa vida, despejar todos os conceitos, incluindo herança genética.O processo até é muito simples: encontrar o bloqueio, perceber onde se manifesta e lidar com ele. Quando digo simples, não estou a dizer fácil. Lidar com as nossas questões mais profundas implica trabalho, dedicação, foco, disciplina, coragem, proatividade e Amor, porque até de sofrer é preciso estar cansado. Devemos perceber o que faz sentido para nós, o que nos pode ajudar, procurar a ajuda certa. E o que é certo e funciona para mim, pode não ser certo e funcionar para mais ninguém. Terapia (tradicional ou não), yoga, desporto, escrita, carpintaria, poesia, informação, o que for (mas ficando atento a possíveis mecanismos de fuga). E claro uma que eu acho que é indispensável sempre é a meditação (fiquem atentos porque também vai sair um artigo sobre meditação).Algumas consequências que podem acontecer são: amigos, família hábitos e coisas começam a não estar tão de acordo com a nossa vibração e podemos sentir-nos mais afastados de umas pessoas e “puxados” para outras, isto também acontece com ambientes, temas de conversa, atividades, etc…No fundo, a noite negra da alma é uma ferramenta que nos diz: não estás a atingir o teu potencial, por isso tens aqui estes desafios para te superares e, como eu gosto de dizer, passares de nível. Não somos vitimas das circunstâncias se escolhermos o que fazer com elas. Escolher este papel é escolher dar de bandeja o nosso poder pessoal. Vai doer, vai. Mas se fizermos a nossa parte, o outro lado do túnel é maravilhoso.

Há uma Primavera em cada vida:É preciso cantá-la assim florida,Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nadaQue seja a minha noite uma alvorada,Que me saiba perder... pra me encontrar...Florbela Espanca

19 de Outubro, 2017

Mulheres vs ambição

Ana Isabel Sampaio

A propósito do movimento #metoo e de a semana passada ter sido o dia das raparigas (não que seja a favor destes dias: raparigas, mulher… etc… porque acho que, por um lado é triste e preocupante ter de haver um dia especifico para a consciencialização ou alerta sobre estes problemas, também acho que no fundo no fundo não resolvem nada. Oferecer uma flor às mulheres no dia das mulheres é um gesto vazio se não for acompanhado de outro tipo de ações que durem todo o ano).

Gostava então de falar sobre algumas questões que se passaram comigo e, imagino, com muitas mulheres. Não vou aprofundar as questões de assédio ou violência, essas infelizmente vemos todos os dias e espero que se veja cada vez mais e que ninguém se cale. Nem vou falar muito do facto de essas questões serem desvalorizadas pelas autoridades e por muitas pessoas. Coisas como defender agressores ou justificar com frases tipo: a andar na rua aquela hora queria o quê? Queria chegar ao destino que que tinha programado, exercendo o seu direito de andar na rua em segurança…

Vou falar de uma coisa que é sintomática de tudo o resto e que serve de exemplo para muitas outras questões a ambição. Isto porque, mais do que uma vez me disseram que tinha ambições, queria coisas e não foi como elogio. Foi mesmo no sentido: se calhar tens de te tocar, como se ter ambições e querer fazer coisas e ter objetivos definidos fosse mau. Pior, não foram só homens tiveram o triste comentário. Às vezes as mulheres são as suas piores inimigas.

É revoltante perceber que ainda há muita gente que acha que as mulheres devem ter ambição, mas comedida, só o suficiente para ser uma ”mulher moderna” , mas sem incomodar muito. E pior, saber que ainda há mulheres que se acomodam a isto, se permitem diminuir e se encolher para caber neste modelo, que não faz muita onda, parece que trouxe muitas mudanças, mas que deixa ainda muito a ser feito.

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Ainda me lembro quando disserem que era exagero criminalizar o piropo (já escrevi sobre isso, mas não acho normal achar normal alguém dizer despropósitos a uma mulher que vai a passar só porque sim. Também não acho muito saudável as mulheres que se sentem lisonjeadas com isso.

Claro que nem sempre é fácil mudar mentalidades, mesmo as nossas que tão cheias de preconceitos escondidos são. Eu, mesmo tentando estar alerta, ainda ontem fui extremamente preconceituosa com outra mulher e achei que a mensagem que ela tinha não ia ser grande coisa, pela sua aparência, mas como também estou alerta resolvi deixar de ser parva e ver o vídeo, ainda bem. A mensagem era mesmo boa, e tal como ela referia no vídeo: timing perfeito.

PS – também verdade que a ambição é um bocado mal interpretada no geral… outro bom tema para voltar mais tarde…

  

17 de Outubro, 2017

Sobre os incêndios e não só

Ana Isabel Sampaio

Quando as tragédias acontecem, todos vêm reclamar para as redes socias, durante o dia-a-dia é que pouco se faz, mas é no dia-a-dia que podemos fazer efetivamente a diferença (até porque a memória infelizmente é curta…). Quando em pleno século XXI ainda há quem acredite que a terra não é redonda, que dizer do aquecimento global (30 graus em outubro, não é de todo normal). A verdade é que todos somos um bocadinho culpados.Quando sai para público que uma empresa como a Nestlé usa trabalho escravo infantil e, no entanto, as vendas não caem e se continua a mandar fotos para o bebé Nestlé, algo está seriamente errado com as nossas ações. O que é que isto tem a ver com os incêndios, perguntam? Tudo. No sentido em que a grande maioria das pessoas vive em piloto automático sem realmente pensar que são as ações diárias e constantes que fazem a diferença positiva no que está à volta. Eu sei que sou chata com a história do consumo consciente, mas é uma das formas mais fáceis e rápidas e poderosas de contribuir (ok, admito que nos primeiros tempos dá um certo trabalho ter de perceber a dinâmica, mas depois, é super fácil e normal).- Ter um consumo consciente, por exemplo, no consumo de carne e de roupa (que são duas das industrias mais poluentes), ter atenção à quantidade de embalagens dos produtos- Andar menos de carro e mais a pé e de transportes públicos- Parar de deitar lixo e afins para a rua (é para dar emprego aos varredores – por favor, parem de dizer isso mundo e a civilização agradecem)- Separar o lixo e reutilizar coisas (sejam criativos)- Aprender a manter a calma em situações de tensão- Usufruam mais da Natureza, com respeito, consideração e consciência. Quanto mais nos aproximamos da natureza, mais vontade de cuidar dela temos.-… se alguém se lembrar de mais, acrescentem….Quanto à manifestação, irei quando for a favor da natureza, da consciencialização da prevenção. Não particípio em nada que seja contra o que quer que seja, prefiro juntar-me a favor das coisas. O poder da união é grande e deve ser dirigido.

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