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O lápis que vê

O lápis que vê

11 de Outubro, 2016

Piropos e virgens

Ana Isabel Sampaio

Ora os piropos foram considerados crime de assédio sexual. Eu aplaudi. A maioria das pessoas achava exagero da minha parte. Quando explicava os meus motivos, mais ou menos, toda a gente concordava. É muito claro que existe uma cultura de violência e desvalorização em relação às mulheres e o que significa ser mulher (há uns tempos escrevi um texto sobre os homens que também sofrem com preconceitos de género, embora diferentes, mas porque é que estamos sempre a tentar por rótulos às coisas e às pessoas, já todos percebemos o mal que isso causa?...).

Quando um senhor diz sem pudor nenhum, que as leis são como virgens (e o resto da pérola já todos sabem), não achamos que o senhor é um violador de virgens (ou esperamos que não), mas é revelador do que uma significativa parte da sociedade acha da mulher e do respeito que tem. Aquele comentário é ofensivo, violento e misógino. Quando uma onda de quase indignação se levanta quando o piropo é criminalizado (quando taaaanta coisa é tão mais grave e não há tanto furor) é sintomático. É uma questão cultural e de mentalidade. 

Pessoas que se acham no direito de berrar obscenidades a uma rapariga ou uma mulher que vai a passar só porque lhe apetece é grave (até porque sabemos que a maioria que se ouve não é o "ó joia anda cá ao ourives ou és como um helicóptero...” são bem mais ordinários). A violência de género existe e é um problema grave, que tem de ser abordado sem preconceitos nem falinhas mansas.

Quando uma mulher tem a coragem de denunciar assedio ou violação passa por um processo complicado em que durante a maior parte do tempo desconfiam dela.  Muitas mulheres vivem uma falsa emancipação (nomeadamente no que diz respeito a relações). As mulheres não têm igualdade no acesso a cargos e a salários. Quando as meninas continuam a ser educadas para serem bonitas (desculpem, bonitinhas, será uma melhor expressão, porque não nada de mal em ser bonita e cuidar de si em todos os sentidos). Quando amamentar em publico é olhado de lado. Quando quando as mulheres têm personalidade são apelidadas de mau feito ou nariz empinado ou são catalogadas pelo seu corpo. E podia continuar a lista...

As próprias mulheres são culpadas nisto, muitas vezes vendo as outras, não como companheiras, irmãs (já não há o conceito de sororidade), mas como rivais, esquecendo-se que fazendo isso é o legado que estamos a deixar às nossas filhas, afilhadas, irmãs, amigas, primas... 

Homem e mulher são diferentes e ainda bem, adoro essas diferenças, mas elas são para ser honradas e não abusadas. Por isso, faço minhas as palavras desta menina selvagem (já disse antes que ser selvagem é seguir a sua essência), porque eu não diria melhor e nem levantaria tantas questões pertinentes.

https://www.youtube.com/watch?v=9R1Pf7zFHFI